PAISAGISTA RICARDO VIANA

Em março de 2001 fizemos a primeira manutenção da Praça Conde de Barcelos, que funcionou como uma experiência para avaliar o que tínhamos pela frente. Depois desta manutenção, escrevi um texto para a prefeitura sobre a situação da praça e a solução que acreditava ser necessária para o conserto. Segue o texto feito em Agosto 2001.

“Devido ao plantio não planejado de árvores ao longo dos anos, a Praça Conde de Barcelos acabou ficando saturada neste extrato vegetal. O excesso de árvores e a falta de manutenção periódica gerou um sombreamento excessivo que comprometeu toda vegetação abaixo das copas das árvores: gramado, arbustos e herbáceas. A única maneira de reverter o desenvolvimento desequilibrado das árvores é através da poda, que consiste na retirada dos galhos mortos e também dos galhos que apresentam crescimento excessivo e desordenado. A intenção desta prática é conseguir a preservação das plantas através do controle do peso e do centro de gravidade gerado pela condução da poda mensal, de maneira que o sombreamento excessivo diminua e permita o desenvolvimento de novos ramos nas árvores e o crescimento de gramíneas e herbáceas abaixo delas. Acreditamos ser possível realizar este trabalho em um curto espaço de tempo, com a retirada criteriosa de aproximadamente 30% da massa vegetal da praça, sem retirar nenhuma árvore”.

Em setembro de 2001 iniciamos o trabalho de retificação das copas das árvores através de podas e retiramos todos os arbustos que bloqueavam a vista. Desta forma a praça tomou a conformação de um bosque. Foram retirados 22 caminhões de lixo e entulho nessa primeira limpeza. A partir daí, estabelecemos o cronograma de trabalho que usamos até hoje: varreduras semanais com o ensacamento do lixo para retirada pela prefeitura, corte da grama mensal, poda das árvores e retirada mensal de dois caminhões de lixo. Neste mesmo ano foram providenciadas lixeiras de arame, que acomodam sacos de lixo plástico.

Em agosto de 2005 foi feito o levantamento planaltimétrico da praça, e junto com isso um desenho com a localização de todas as árvores existentes. A identificação das espécies foi feita por mim. Dessa forma conseguimos uma avaliação mais precisa de tudo que cada árvore precisaria, principalmente em termos de poda.

As podas sistemáticas sempre foram um problema no dia a dia da manutenção da praça, pois temos árvores muito comprometidas e galhos que não podem ser retirados, alguns porque a legislação não permite e outros porque estão sobre a rede da Eletropaulo, impedindo o nosso acesso para a poda. Em novembro de 2006, depois de muitos pedidos não respondidos na regional de Pinheiros, escrevi este texto abaixo (e enviei junto com o mapa contendo as árvores numeradas e identificadas) solicitando o serviço de poda e uma conversa com o agrônomo residente. Depois de alguns dias, consegui me reunir com o agrônomo. Apesar de ele concordar com todas as solicitações, me confessou que não poderia fazer o trabalho e nem conseguir uma autorização para a execução do trabalho, porque a lei não permitia podas de galhos do diâmetro que precisávamos cortar e nem ele tinha autoridade para poder solicitar a poda. Depois disso, percebi que estávamos sozinhos e que o trabalho de poda deveria ser feito mesmo sem o apoio da prefeitura.

Segue o texto da carta :

“Prezados senhores :

Venho abaixo solicitar uma equipe de podadores da prefeitura para realizar podas de manutenção das árvores da espécie Tipuana da Praça Conde de Barcelos, Alto de Pinheiros.

As árvores da Praça Conde de Barcelos são de idades variadas, por isto, a necessidade de poda pode acontecer por vários motivos:

1) Árvores jovens com até 5 anos: é necessária a poda para a formação e condução da planta dentro do bosque, assim como para fazer a limpeza dos ramos secos.

2) Árvores maduras: de 5 a 20 anos é necessária para adequar as copas entre si e evitar que as árvores entrem em competição desnecessária, assim como a remoção dos ramos velhos e baixos que já estão secos e têm risco de queda.

3) Árvores velhas: para controlar o peso das copas, em árvores que tem baixa capacidade de sustentação, retirando os galhos velhos da parte inferior, muito sombreados, que já não apresentam boa brotação e tem o consumo de energia maior que a produção. O controle da altura se faz necessário em algumas situações onde o centro de gravidade da árvore está muito fora do eixo do caule.

As árvores que solicitaremos poda, em sua maioria, são árvores velhas e se encaixam na categoria de poda 3. Com a chegada das chuvas, tememos o tombamento dessas árvores por excesso de peso aliado ao comprometimento da estrutura de sustentação das copas por ataque de cupins de solo, como foi atestado pelo IPT, na maioria das Tipuanas do bairro. Já perdemos duas árvores na última tempestade, 15 dias atrás, e acreditamos que com uma poda criteriosa, que alia diminuição de peso através da remoção dos galhos improdutivos e preservação da estrutura das árvores, conseguiremos prolongar substancialmente a vida e a qualidade destas árvores.

As árvores da praça estão numeradas e a lista de poda vai abaixo:

Tipuanas da Rua Benet: 6, 14, 26, 44, 45, 82, 83, 93, 125, 132, 152, 155, 167. Todas as árvores da Rua Benet são de grande porte e precisam da retirada de três ou quatro galhos grossos e improdutivos por árvore. São árvores velhas e se encaixam na categoria de poda 3

Tipuanas do parquinho: 76, 96, 98, 99,101,112. Todas as árvores do parquinho são árvores maduras e de porte médio, precisam da retirada de um ou dois galhos médios por árvore e se encaixam na categoria de poda 2”.

Em Agosto de 2006 os arquitetos Guilherme Paoliello e André Vainer fizeram o projeto de reurbanização da praça, com criação da pista de Cooper e novos bancos de madeira e relocação e remoção de alguns bancos de alvenaria existentes.

Em 2007 fizemos o plantio de aproximadamente 40 árvores entre Ipês Rosa, Tipuanas e Jacarandás, visando iniciar o processo gradual de substituição das árvores velhas e comprometidas. Foram plantados também cerca de 50 arbustos com florescimento perfumado, Jasmins do Imperador e Manacás de Cheiro.

Em 2008, a reforma da praça foi executada: a pista de caminhada construída, os bancos reorganizados, o parquinho foi todo repintado, novos bancos de madeira distribuídos e retirados os anéis de concreto que compunham o trenzinho e outros brinquedos de alvenaria no centro da praça.

De 2008 a 2015 continuamos com o programa de manutenção semanal, seguindo à risca a premissa inicial e incorporamos nele a complementação do pó de pedra da pista de cooper nos meses de junho/julho, anualmente.

Ricardo Viana